Pobres Leões
Você já sentiu ou tem sentido um certo vazio?
Vou te explicar do que estou falando, e a que vazio estou me referindo.
Falo daqueles dias em que sair da cama é mais custoso do que o é habitualmente; de quando, ao tirar o pijama, se sente vontade de vesti-lo novamente e retornar para a cama; e como isso quase sempre não é possível, você se consola, desejando que o dia passe rápido; e assim, engata uma primeira marcha e vai, deixando-se levar triste e emburrado para vencer mais um dia.
Quando este sentimento perdura e começa a fazer morada, é hora de se atentar, de abrir os olhos e ver que algo não está bem. É desse vazio, dessa falta de ânimo que te falo e que vem acometendo muitos, algo muito comum na aventura que chamamos de "vida segura''.
Além desses sentimentos, costumam se juntar a eles outros, como: uma sensação de cansaço constante, uma fácil e crescente impaciência, irritabilidade em alta, acompanhada de uma vontade forte de que te deixem quieto…
Um dos monstros, que pode nos levar a esse estado, é a Dona rotina, sentimento sorrateiro que nos seduz, que vai se estabelecendo pouco a pouco, de mansinho, que vem sempre revestida de aparente segurança e certezas que vão, com o tempo, se mostrando voláteis, sentimentos que acabam por aniquilar a nossa vitalidade e, consequentemente, a nossa iniciativa.
A rotina, depois de incorporada, traz com ela a conformação, tira de nós a vontade de crescer, de inovar, de aventurar-se… fazendo do vivente uma máquina excelente naquelas funções que se automatizam, que me fazem lembrar o clássico filme "Tempos Modernos" (1936) de Charlie Chaplin.
Venho vivendo um momento muito íntimo e desafiador, uma busca constante da real finalidade, do porque fazer, da avaliação e mensuração do prazer advindo da ação, estabelecendo um limite entre o necessário e o supérfluo, não me deixando apanhar, como antes, pelas armadilhas do consumo, muito menos ser arrastado por metas e objetivos estabelecidos por outros.
Penso ser hora de fazer por prazer, de buscar a alegria em realizar, de me desvencilhar de todas as bugigangas que me venderam barato, quero tempo para abrir a grande mochila que fui enchendo pelo caminho e ver o que realmente preciso, aliviar-me do peso que acaba minando a minha disposição e resistência para seguir em frente, quem sabe até ser feliz.
Chega de matar os pobres leões, quero mesmo é voltar a acordar bem cedinho para aproveitar o dia como já fiz há muito tempo atrás.
Rogério Alves.
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