Gavetas Danadinhas

A vida vai passando e ela não sabe brincar quando o assunto é "tempo", ela consegue iludir o vivente neófito, que inocentemente acredita em sua eternidade.
E comigo não foi diferente, afetado por sua força e extasiado por sua plenitude, acabei deixando passar algumas de suas tantas e belas oportunidades.
Quando atinei e quis voltar, o tempo não permitiu. Mais atento e desperto, busquei compensar com um empenho absoluto o que achava ter perdido; baixei a cabeça e fui atrás de sobreviver e do conquistar.

Entretido em minhas correrias, não a vi passar por muitos anos, nem das paisagens eu me lembro, por estar sempre absorvido em cumprir o que me determinavam e a conseguir o que todos desejavam que eu tivesse.
Com o passar do tempo, a gente vai automatizando os afazeres, e é quando conseguimos levantar a cabeça e voltar a ver o que e quem está ao nosso redor, sobra tempo até para arrumar as gavetas e percebe-se que já não cabem mais bugigangas.

As gavetas são danadinhas, elas vão engolindo tudo, são como buracos negros, até que chega esse tempo e a gente vê, ao vasculhá-las, que nem se lembra daquelas coisas, pensamos mesmo que elas, as gavetas, são de outra pessoa e, são inevitáveis as perguntas: Por que comprei isso? Pra quê? Onde eu estava com a cabeça?
Quando estas perguntas saem das gavetas, elas passam em revista todos os compartimentos da vida, mesmo aqueles mais ocultos, e nada escapa. Então, é hora de olhar para dentro e dar uma arrumada em tudo.

E como sobram coisas! Umas para serem descartadas, outras irão para doação, umas poucas passaram por reciclagem e, somente uma minoria nos serão realmente úteis.
Na realidade, a gente cresce e percebe que precisamos de muito pouco para viver e menos ainda para nos fazer felizes. O que realmente importa são as pessoas com que a vida e o tempo nos presenteou.
Gavetas são danadinhas!

Rogério Alves
Pegando uma carona nas suas gavetas, relato uma passagem sobre estes “seres estranhos” chamados gavetas. Lá, pelos idos dos anos oitenta (1983), era membro da Comissão de Licitações da nossa Prefeitura e faltavam muitas mesas para atender às suas necessidades, ficando decidido que seria efetuada uma licitação para comprar estas mesas. Cada Secretaria enviou as suas necessidades e o tipos de mesas preferidos. Mesas para todos os gostos! Como tinha uma relação muito próxima com o Prefeito e para não arranjar problemas com os Secretários, levei as sugestões de mesas de cada Secretaria para ele decidir. Umas Secretarias queriam mesas enormes, com muitas gavetas. Outras, nem tanto! Ele me disse para licitar a menor mesa e com apenas duas gavetas.…