Doce Lar
Ao entrar nesse pátio imenso, me vejo em você,
sentado desde não sei que horas, a olhar o nada,
esperando que a vida se manifeste, por vontade alheia.
São as ordens que te movem, nada diferente de mim,
depois de tanto mandar, resta-nos apenas acatar,
no caminho do fim, nos entregamos sem relutar.
Vejo no seu olhar um nada que me espera impiedoso,
quem dera que comigo fosse menos frio o calabouço,
uma doce ilusão tenta me fazer crer num algo fabuloso.
Saúdo-te com retumbante bom dia e te exijo galhardia,
algo que em meu ser é cada vez mais escasso, raro,
diante do teu silêncio, penso nessa nossa vida e me calo.
É um pátio imenso e tem lugar para outras cadeiras,
saiba que, amanhã chegarei quieto, e só, me sentarei,
para olhar o nada e ver o que você tem visto da vida.
Falta banda no coreto, dança e o que fazer,
as festas são raras, quando se vê é hora de encerrar,
o pátio esvazia-se por encanto, indo cada um para o seu canto.
O pátio é grande, redondo, sem cantos nem encantos
nossas cadeiras estão frente a frente no centro
o portão está fechado, ninguém entra, ninguém sai.
Dizem que é um lar!
Rogério Alves
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